quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Texto de Antônio Xerxenesky e design por Kareen Sayuri

O homem que amava o cinema
Texto de Antônio Xerxenesky e design por Kareen Sayuri

“O que é mais importante, o cinema ou a vida?” Fora de contexto, a célebre frase de François Truffaut parece uma piada. Quem, no mundo, se perguntaria algo tão absurdo, daria um valor tão grande a uma forma de expressão artística? O mesmo sujeito que depois diria: “Sou o mais feliz dos homens: realizo meus sonhos e sou pago para isso, sou diretor de cinema”. É assistindo – não a um, mas a vários – filmes do cineasta francês que a sentença ganha sentido, e então podemos compreender como pode um homem amar tão apaixonadamente o cinema.

Nascido em Paris no ano de 1932, François Truffaut começou a frequentar cedo as salas de cinema. Aos 8 anos de idade, assistiu ao primeiro filme de sua vida, e passou boa parte da adolescência no escurinho da cinemateca de Henri Langlois, hoje tão lendária para o mundo da sétima arte como é a livraria Shakespeare & Co. para a literatura. Foi na cinemateca que ele iria se apaixonar pelo cinema norte-americano, pelos faroestes de John Ford e Howard Hawks e pelos suspenses do inglês Alfred Hitchcock. Ainda na juventude, Truffaut conheceu o crítico André Bazin (que depois lhe deu emprego na revista Cahiers du Cinéma) e o cineasta Jean-Luc Godard, quando este ainda era um crítico sem papas na língua.
Teoria e prática Truffaut e Godard viam com maus olhos o cinema francês e produziam ácidas críticas na Cahiers du Cinéma contra as tendências da época (muitos desses textos, junto com outros artigos, encontram-se compilados no essencial O Prazer dos Olhos – Escritos sobre Cinema). Chegou uma hora, porém, em que perceberam que só reclamar não levaria a lugar algum. Eles defendiam o cinema de auteur, no qual os filmes deveriam carregar inúmeras marcas do diretor – considerado o verdadeiro autor. Com um manifesto desses na cabeça, era momento de pôr as mãos na câmera e se arriscar. Sendo assim, após dois curtas, em 1959, Truffaut lançou seu primeiro longa-metragem, Os Incompreendidos. Foi o divisor de águas.

Não é “somente” porque Os Incompreendidos mudou a história do cinema, com sua edição incomum e sua fotografia em preto e branco. A questão não é apenas histórica. No filme, Truffaut transformou parte de sua vida em cinema. Por mais questionável que seja a abordagem de investigar a vida do autor para compreender uma obra de arte, no caso específico do cineasta francês, é como se a obra chamasse a atenção justamente para isso: a relação entre vida e ficção. Com auxílio do ator Jean-Pierre Léaud no papel de Antoine Doinel, Truffaut reconstruiu, no filme, muitos dramas de sua infância, a dificuldade de se encaixar na sociedade, as brigas com os pais, a resistência à autoridade. Desde esse filme, Doinel converteu-se no alter ego de Truffaut. Léaud envelhecia junto com o personagem, e, em consequência disso, o diretor pôde filmar muitas de suas obras mais memoráveis.

O grande frenesi Isso, porém, é adiantar-se alguns capítulos na história do cineasta. Cabe retornar ao ano de 1960. Logo após o sucesso crítico inesperado de seu primeiro longa-metragem, Truffaut partiu para uma série de adaptações literárias. Primeiro, começou com o noir Atire no Pianista, para o qual escalou o músico Charles Aznavour no papel do personagem principal, um tímido pianista. Apesar de partir de um livro policial, o filme é salpicado de momentos cômicos que depois seriam reconhecidos como típicos do diretor. Na sequência, adaptou o romance Jules & Jim, de Henri-Pierre Roché, que pinta um melancólico triângulo amoroso. Considerada por muitos o grande filme do diretor, a obra traz uma performance apaixonante de Jeanne Moreau (literalmente apaixonante, afinal o diretor e a atriz passaram a namorar).

Depois, em 1965, lança a adaptação do clássico de ficção científica de Ray Bradbury Fahrenheit 451, talvez a obra mais conhecida do grande público. Fahrenheit 451 foi um marco na carreira de Truffaut, por bem ou por mal. Tratava-se do primeiro filme que dirigia em inglês, uma língua que ele não dominava na época, além de ser sua primeira obra em cores, técnica em que tampouco tinha experiência. Ao contrário do colega Godard, cujo primeiro filme colorido já explorava uma carga de simbolismo que os vermelhos e azuis permitiam, Truffaut perdeu-se na execução dessa obra, que mantém o valor hoje em dia apenas por ser uma das mais assombrosas histórias de distopia, com um governo futurista que exigia que os livros, considerados perigosos, fossem queimados.

Caminhos tortuosos A década de 60, como os livros de história estão cansados de informar, foi um momento de mudanças radicais na sociedade, especialmente na França, que teve a revolução do maio de 1968. Nesse momento histórico houve uma cisão no cerne da nouvelle vague, a escola artística capitaneada pelos novos cineastas franceses: Godard junta-se ao movimento esquerdista e passa a dedicar suas obras à causa socialista. Truffaut, por outro lado, segue fazendo cinema como sempre fez: dá continuidade à série de Antoine Doinel (Beijos Roubados e Domicílio Conjugal), com suas desventuras no amor e no trabalho. A divisão política (e estética, inevitavelmente) cria a cizânia entre os amigos, que trocam cartas rancorosas.

Hoje, analisando em retrospecto, a maioria da crítica percebe que as melhores obras de Godard foram feitas antes de 1968, e que sua adesão total à causa transformou seu cinema em uma arte panfletária. Enquanto isso, o cinema de Truffaut percorreu rotas irregulares: teve seus altos e baixos, e nunca voltou a ser tão inovador como foi na década de 60. Não obstante, nos anos 70, realizou no mínimo dois filmes marcantes: A Noite Americana e O Homem Que Amava as Mulheres.

Os dois filmes não chamam muita atenção, a princípio. Imaginando um espectador que não faz ideia de quem é esse tal de François, ele talvez assistisse às obras com indiferença. Porém, em se tratando de “cinema de autor”, quanto mais se veem os filmes do diretor, mais entendemos suas nuances. Sendo assim, O Homem Que Amava as Mulheres surge como uma síntese das explorações sobre o tema “relacio namentos”. Momento da franqueza: François Truffaut era um mulherengo. Ou, se a expressão for muito pesada, um galanteador, um homme à femmes. Apaixonava-se por toda bela atriz sob sua direção, dizem. E namorava muitas delas. Seu alter ego sofreu, ao longo da série, com uma dificuldade de manter o compromisso e dedicar-se a uma só mulher, estando sempre com um pé na porta. Então, quando a primeira cena de O Homem Que Amava as Mulheres mostra o enterro do protagonista (interpretado por Charles Denner), com seu caixão visitado por dezenas de moças de todo s os tipos, ela reverbera com maior força no espectador já familiarizado com a obra do diretor.

O legado Truffaut morreu em 1984, culpa de um câncer cerebral, e hoje jaz no cemitério de Montmartre, junto com outros nomes importantes da nouvelle vague. Vinte e seis anos após sua morte, o cinéfilo contemporâneo vez em quando se pergunta: qual foi a importância dele, afinal?

Em primeiro lugar, o diretor realizou filmes reconhecíveis. Basta sentar na frente de um filme qualquer dele, sem aviso algum. Após cinco minutos, vem a certeza de que se trata de um filme de Truffaut. Neles, o trágico nunca afunda no sentimentalismo: o humor, muitas vezes inocente e quase infantil, brota nos momentos mais inesperados. Uma briga de casal nunca é apenas uma briga de casal, ela se desdobra e se aprofunda quanto mais se conhece a obra do francês. Talvez aí esteja a raiz da marca autoral que os diretores da nouvelle vague tanto buscavam. Ao aproximar sua vida da arte, Truffaut transformou a experiência de ir ao cinema em uma maneira de dialogar com uma pessoa de carne e osso, que não tem medo de expor seus defeitos.

O que nos leva ao outro filme importante da década de 70: A Noite Americana. Repleto de metalinguagem, mostrando o que ocorre por trás dos bastidores de uma filmagem, a obra se constrói como uma sentimental carta de amor ao cinema. É isso que Truffaut era, no fim das contas: um cinéfilo, um apaixonado. Sua obra nos convence do prazer que é assistir a um bom filme e, mais importante, do poder da expressão artística e de como a ficção pode nos ajudar a entender melhor a nós mesmos.

Livro O Prazer dos Olhos – Escritos sobre Cinema, François Truffaut, Jorge Zahar François Truffaut: uma Biografia, Antoine de Baecque, Record.



Fonte: http://vidasimples.abril.com.br/subhomes/gente/



François Truffaut, o diretor que provou o quanto a ficção é capaz de iluminar nossa vida.

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Brasil, 10 de fevereiro de 2011

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