quarta-feira, abril 01, 2009

A MÍDIA, O IMAGINÁRIO E A VIOLÊNCIA

UNIFUTURO- PROGRAMA
UNIVERSIDADE ABERTA DO FUTURO "TELHADOS DO MUNDO"


A COMUNICAÇÃO, A MÍDIA, O IMAGINÁRIO E A VIOLÊNCIA: entre o que deve ser dito e o que precisa ser mostrado - olhares jurídico-educacionais


Profª Ana Elizabeth Araújo da Silva Félix1


RESUMO:
Este artigo busca analisar a influência da mídia ante os fenômenos contemporâneos de violência com os quais as comunidades adolescentes do mundo atual estão sendo acometidas. Para o alcance deste objetivo serão avaliadas as informações coletadas na mídia sobre os crimes hediondos ocorridos e fortemente evidenciados entre o período 2007-2008, descritos em canais de TV de ampla aceitação nacional. O método utilizado na investigação foi o da análise de conteúdo dos discursos expressos, induzidos ou escamoteados das cenas criminais de João Hélio, Isabela Nardoni e Eloá. O cerne deste ensaio teórico é, portanto, buscar a compreensão acerca do papel que a mídia exerce na formação dos adolescentes, com perfis de violência, de valores controversos e ações inaceitáveis.


PALAVRAS-CHAVE: Mídia. Violência. Linguagem. Direito. Educação.


INTRODUÇÃO:
Atualmente, a mídia nacional têm investido sobremaneira na cobertura de eventos que versem sobre violência, atrocidades, e finalizem com cenas trágicas de óbitos inesperados. A comoção popular é um fator que possibilita aos canais de televisão um crescimento vertiginoso nos níveis do Ibope. Programas de auditório ou jornais que trazem à baila temáticas como “O assassinato do menino João Hélio”, “A morte da garotinha Isabella Nardoni”, e agora, recentemente, “A morte da adolescente Eloá”... atingem pontuações máximas na satisfação do telespectador. São histórias tristes, compostas por cenas comoventes, realidades amargas e violentas, ações vis que hoje são conjecturadas e realizadas em âmbito nacional.
A mídia exerce, nessa perspectiva, o papel de informante, promotora de idéias, instrumento de persuasão, vendedora de produtos, serviços, disseminadora de ações, veiculadora de ideologias, configurando-se ora como uma verdadeira “Deusa” ora como “Juíza”, quem tem a palavra final sobre qualquer temática: educa, deseduca, informa, ultraja, coisifica, e tem o poder de transformar toda uma geração.


A televisão é um instrumento de comunicação, informação e poder. As novelas enunciadas no horário noturno, remontam o imaginário social demonstrando as controvérsias do mundo contemporâneo no âmbito familiar: desrespeito a crianças, portadores de deficiências, tratamento dispensado mediante cor de pele, maltrato a idosos, traições e falcatruas na ordem política e governamental. Silva (2003) em seu livro “As tecnologias do imaginário” afirma que a televisão reinventou o folhetim e o laço social virtual. De fato, às vezes, até as denominações das telenovelas corroboram para que essa afirmação se configure em verdade. Assim, no horário da novela das oito, famílias inteiras que antes utilizavam este tempo do seu dia-a-dia para conversarem entre si e seus pares, trocarem idéias, conhecerem-se mais... hoje, ficam estáticas e inertes frente a um aparelho de TV, sendo co-enunciadores de discursos e ideologias pouco aceitáveis, em alguns casos, moralmente questionáveis, eticamente discutíveis, psicologicamente inconcebíveis.





  1. CRIMINALIDADE X MÍDIA: interfaces da razão, da comoção e da emoção na televisão brasileira

A elevação dos níveis de violência nos últimos anos, trouxe para a agenda social a fragilidade da segurança pública em detrimento ao crescimento vertiginoso de uma sociedade aflita em meio ao incremento e a incitação a criminalidade. O resultado do referendo sobre a proibição do comércio de armas de fogo e munição amplificou um evidente clamor popular que exige medidas consistentes, duradouras e claras no combate e na prevenção ao crime. A mídia, percebendo a importância do momento histórico (e principalmente o poder de verbalização dessa demanda pela classe média – sua maior consumidora), tem aprofundado as discussões sobre a questão, pontuando de forma contundente a cobertura acerca da segurança populacional. Porém, todos os que lidam com o fenômeno da violência devem compreender sua complexidade e a dificuldade no domínio de todas as suas variáveis.


Como espectadores, leitores, ouvintes, cidadãos, devemos compreender que a cobertura do cotidiano violento não é tarefa fácil e, se hermeneuticamente, não compreendida, poderá incitar os co-enunciadores destes discursos afetados por problemas econômicos, sociais, mentais, ou mesmo àqueles sem algum tipo de formação, e sem o cultivo de valores éticos, civis e morais, a produção de ações violentas que resultem em casos como os ocorridos na família Nardoni (SP), ou do menino João Hélio (RJ), ou ainda sobre o trágico final do seqüestro da adolescente Eloá (SP), dentre inúmeros outros casos ocorridos e não notificados pela mídia e por isso, por nós desconhecidos.


Assim, a mídia apresenta aos telespectadores, seja através de jornais, propagandas ou serviços, informações explícitas e escamoteadas, expressões que se configuram de forma unívocas, equívocas e análogas. Segundo Ducrot (1987), o sentido das palavras só pode ser definido a partir dos sujeitos e dos contextos em que são enunciadas. No campo do direito, tal assertiva se fundamenta no âmbito da construção de argumentos em depoimentos e provas testemunhais de casos diversos: a capacidade de argumentar advém do conhecimento da ação, do sujeito que a praticou, do contexto em que ocorreu das interfaces de tempo e lugar e das razões que induziram tal prática ou ação. Assim, torna-se subjetiva e pouco consistente, uma análise de um crime ocorrido em certo espaço temporal, por sujeitos desconhecidos de quem o fato ora analisa, histórias conturbadas, contextos confusos, coberturas incompletas como ocorre, em alguns casos, na mídia nacional. A referência a esta idéia está alicerçada nos crimes noticiados que envolvem o menino João Hélio, que em meio ao assalto ficou preso na porta do carro, sendo jogado do lado de fora, perdendo a cabeça no percurso urbano escolhido pelos sujeitos do crime, não tendo sido até hoje, esta parte de seu precioso corpinho encontrada. Outro caso referendado neste estudo é a morte da menina Isabela Nardoni, que passeava com o pai, a madrasta e os irmãos e no mesmo dia, de forma trágica, aparece caída, machucada fortemente, e morre subitamente após a queda de uma janela do apartamento do pai. Tratamos também, do seqüestro configurado em crime de cárcere privado ocorrido no tempo de 100 horas em Santo André, promovido por um adolescente denominado Lindemberg, que apresentava confusão mental e poderá ter sido impulsionado a cometer o delito de lançar tiros em Eloá e Nayara em virtude do acesso do GATE ao cativeiro, ou por ciúmes, ou, ou... por outras razões que só a sua mente e o seu coração poderão no futuro, para a justiça desvelar.


A mídia pode manifestar-se em infinitos espaços e em diversas modalidades: a mídia cultural representa expressão da inteligência humana aplicada à comunicação social, encontrada em revistas, jornais, livros e programas televisivos que abordem conteúdos sobre a história, a natureza, os costumes das sociedades e as investigações científicas, constituem marcantes contribuições para aperfeiçoamento dos sistemas educativos, sem lhes retirar o tempo necessário para maturação do aprendizado, na infância e na adolescência. Com esse objetivo, a mídia, sobretudo a televisada, caminha lado a lado com a educação convencional, servindo-lhe de ancila ou pedagoga (como o preceptor que, na Grécia antiga, levava e trazia as crianças à escola); leia-se a exemplo desta tipologia a TV Cultura. Já a mídia-entretenimento, a sua vez, capta os sentimentos lúdicos dos espectadores, desperta-lhes a imaginação criativa, as sensações de prazer e alegria, que equilibram as emoções humanas. Nesse campo, principalmente, costuma resvalar para o humor barato, chulo, asqueroso às vezes, mas prejudicial à formação moral das pessoas, sobretudo crianças e adolescentes, que costumam tomar como modelo personagens de vida alegre, duvidosa ou equívoca, criando padrões não convencionais de comportamento; a esta tipologia, aponta-se programas como Zorra Total, A Praça é Nossa, Domingão do Faustão, Domingo Legal, dentre outros.


E por fim, a mídia jornalística, do tipo investigativo ou de denúncia, a face trágica e paradoxal do jornalismo escrito, falado ou televisionado: de um lado, o combate heróico aos escândalos públicos, à corrupção, ou as narrativas de tragédias e crimes infamantes; de outro, negativamente, a invasão da privacidade ou mesmo intimidade de pessoas, lares ou instituições, e a conseqüente exposição pública a julgamentos sumários. O jornalismo-denúncia gera, freqüentemente, graves conflitos entre a liberdade de informação da imprensa e a presunção de inocência das pessoas (preceito penal e constitucional); Nesse contexto situam-se os limites éticos indeterminados da liberdade de expressão midiática. Além da mídia jornalística, que conhecemos com detalhes cada jornal das emissoras, ainda nos aparecem programas de entretenimento que apresentam como pauta casos já apontados, tais como os programas: “Mais Você”, “A Tarde é Sua”,Hoje em Dia”, dentre outros.


É perceptível que estes discursos, ora se encontram, ora se digladiam polifonicamente entre as demais emissoras, sujeitos e contextos. A reportagem lança um olhar sempre fiel às suas convicções, concepções e ideologias. Este olhar é dirigido aos interlocutores (seres repletos de concepções e convicções polifonicamente iguais ou adversas às outras co-existentes), que repassam a outros interlocutores, lançando nos discursos, seu olhar, suas crenças e seus valores e dependendo das funções por eles exercida na sociedade, podem contribuir para a formação ou (de)formação de idéias acerca dos olhares pela mídia ao telespectador lançados.


Seria fundamental que ensaístas e apresentadores de programas de TV que enveredam por temáticas criminalistas, buscassem conhecer o método semiótico de análise dos discursos (emitidos e omitidos) para melhor avaliarem os fatos ocorridos e escolhidos como pautas de seus programas pois, a semiótica apresenta modelos para a análise da significação que ultrapassam as fronteiras para além da frase, na dimensão do discurso que lhe é inerente. Seu procedimento clássico propõe articular a apreensão do sentido seguindo um percurso estratificado em camadas relativamente homogêneas, indo das formas concretas e particulares, manifestadas na superfície do texto, às formas mais abstratas e gerais subjacentes, dispostas em múltiplos níveis de profundidade. A semiótica, ou como nos remonta Greimas (1986), conhecida como a ciência da meia-ótica, mostra como os percursos de significação se organizam e se combinam, em razão de regras sintáticas e semânticas que os fundamentam, partindo de estruturas profundas para as estruturas de superfície, simulando a “geração” da significação, da informação, da realidade ou de sua re-construção.


No campo jurídico, o método semiótico apresenta como ferramenta de análise, o quadrado semiótico de Greimas (1986). Este instrumento aponta o eixo dos discursos emitidos e escamoteados, tomando por base fatos da realidade e todas as contradições presentes nos delitos cometidos. O referido quadrado contém dois eixos distintos: o das afirmações, negações e as suas contradições. Os operadores da lei, ao fazerem uso deste novo método de análise, poderão mais eficazmente, alcançar informações aproximadas da ação praticada, partindo da construção dos argumentos dos atores de cada cena que esteja sendo objeto de investigação, se dispostas como demonstra o quadro a seguir:


Quadro 1: Esquema de análise semiótica a partir da ação comunicativa, do discurso jurídico, do depoimento expresso, escamoteado ou de realidade evidenciada (Não visível aqui)

Afirmação Negação
Neg. da Afirm. Neg. da Neg.
Fonte: adaptado de Félix (2007)


O operador da lei, o repórter, o investigador e os demais envolvidos, a partir deste quadrado semiótico, poderão, com maior precisão, abstrair informações precisas de cada ação realizada, tendo como escopo, as falas de cada sujeito envolvido na cena criminal.





    1. A MÍDIA, A COMUNICAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO DO TELESPECTADOR
A televisão exerce hoje nas famílias papel fundamental: des(educa) gerações a fio. Nas décadas de 70 e 80, crianças ao final da tarde, quando terminavam suas tarefas escolares, deparavam-se diante da TV para assistirem programas como Vila Sésamo, Sítio do Pica-Pau Amarelo, Shazam e Xerife. Hoje, as crianças em qualquer horário podem buscar nos canais de TV desenhos animados que sempre trazem como pano de fundo a violência: as imagens são pouco detalhadas, sem beleza ou cor. Os fundos e fotografias remontam cenas de violência e combate. Quando não se deparam com filmes e desenhos animados dessa natureza, podem assistir novelas a partir das 14 horas que tratem sobre temáticas diversas, banalizando relações amorosas, o respeito aos mais velhos, coisificando a sexualidade e incitando a violência.


Em um determinado canal de TV, à partir das 17 horas passa a ser exibida uma novela direcionada aos adolescentes. O referido folhetim faz tanto sucesso que permanece na mídia desde o ano de 1995. O programa apresenta histórias de conflitos e corrupção em escolas, na família, situações de pré-conceitos estabelecidos, que geram preconceito e discriminação, além de outras temáticas chocantes e inaceitáveis para o público e horário citado. Toda esta indústria de formação de personalidades, está disponibilizada em aparelhos que podem ser encontrados hoje inclusive em equipamentos de telefonia celular, por preços variados. Nas residências, o referido aparelho pode ser encontrado em salas, quartos, cozinhas e salas de estar; é parte da família. O governo há algum tempo lançou um programa denominado “Amigos da Escola”; o produto em pauta pode ser metaforizado como “Amiga da Família” pois, de certo modo, acaba exercendo a função de parente próximo e, a partir das ideologias disseminadas por este mais novo ente da família brasileira, constrói-se um imaginário no ideário popular, descrito por Silva (2003, p.72) como:


O imaginário transborda o racional e faz da bacia semântica um lago sempre pronto a vazar. Imaginário é o rio. Aos que pretendem represar o imaginário, cabe lembrar das inundações. Só há uma maneira de inundar o imaginário: entrar no seu jogo, na sua corrente, na sua fluência. [...] o imaginário é deformação.


Assim, forma-se a consciência dos sujeitos: avançando do racional ao inteligível, da correnteza a calmaria, da inundação à seca. Para Silva (2003, p;73) “nunca saberemos quem realmente somos. Mas temos certezas imaginárias que nos orientam, consolam, guiam", possibilitando a realização plena. O que devemos fazer não é proibir crianças e jovens de se apropriarem dos conceitos disseminados em programas desta natureza e sim voltarmos a construir hábitos de conversação e assumir a condição humana de pais, irmãos, orientadores e amigos das gerações mais novas que nos rodeiam e fazem parte de nossas vidas. Assim, a televisão deixará de fazer parte da família e será usada apenas como acessório e utilitário informacional e não como uma “Amiga da Família”.


Na “Aldeia Global” de McLuhan (1964), a tecnologia da informação é o caminho da sabedoria, do conhecimento. Possuir o acesso à informação, ser capaz de qualificá-la para os fins exatos (transformá-la em conhecimento), produzir uma nova idéia a partir aplicação da informação qualificada ao contexto e possuir os meios para disponibilizá-las, se constitui no ideal das competências do profissional valorizado no início do séc. xxi. Ainda com McLuhan, chamamos atenção para as implicações sociais dessa mudança de paradigma, no que diz respeito à consciência da diversidade:
Eletricamente contraído, o globo já não é mais do que uma aldeia. A velocidade elétrica, aglutinando todas as funções sociais e políticas numa súbita implosão, elevou a consciência humana de responsabilidade a um grau dos mais intensos. É este fator implosivo que altera a posição do negro, do adolescente e de outros grupos. Eles já não podem ser contidos, no sentido político de associação limitada. Eles agora estão envolvidos em nossas vidas, como nós na deles – graças aos meios elétricos.


Na conhecida terceira onda (elétrica, midialógica, tecnológica), a massificação cede lugar à personalização, a centralização perde espaço para a descentralização. Mas há a necessidade de individualizar-se na homogeneidade, da individualidade sobressair-se sobre o coletivo que lhe possibilita.


Do ponto de vista de Émile Durkheim, o indivíduo está constantemente submetido a códigos imperativos, coercitivos e exteriores. Nesta nova forma de conceber o positivismo Durkheim define que ao nascer, o sujeito já encontra prontas as regras, práticas, crenças, maneiras de agir, de pensar e de sentir. Nessa perspectiva, se torna um edifício da sociedade, moldado e acabado segundo seus parâmetros, suas regras, seus modelos. Assim, a mídia, em especial a televisão, datada em 1929, tem uma função imbuída de profunda responsabilidade diante da sociedade no que se refere à formação do ser, com relação aos valores morais, ao caráter, à dignidade, à cidadania e todas as demais qualidades básicas de comportamento e convivência social aceitáveis.


De acordo com Rocco (1989, p.15), “a televisão é o mais alienante dos veículos de comunicação contemporâneos”. Alienante ou não, essa afirmativa não se constitui em verdade absoluta pois, segundo Zamboni (2001, p xviii): não existem sujeitos totalmente livres com poder de dizer e fazer tudo e nem tampouco totalmente assujeitados [...] agindo tal qual uma marionete sendo movidos por um gesto no qual, o que foi falado pelos outros fala também por ele.


Assujeitados ou livres, os telespectadores sofrem influências fortes ou tênues dos bombardeios midiáticos. E, para que essa realidade seja configurada em meados do século XXI de forma respeitosa, desejável, moral e ética, torna-se imperiosa a intervenção da família, da escola na formação do adolescente, pois a Família, o Estado e os meios de comunicação de massa, exercem papel fundamental na formação da pessoa humana em suas diversas dimensões. Nessa ótica, a mídia deve ser passaporte para a inclusão social, promotora da educação em valores, respeitando a cultura e as crenças de cada comunidade pois, uma sociedade é medida a partir do grau de cidadania dos sujeitos que a compõem.


No entanto, a mídia detém o privilégio do alcance pleno, falta-lhe encontrar seu verdadeiro sentido de indutora da cidadania para despertar no interlocutor o interesse pelo bem comum, pelo bom funcionamento das instituições, pelo bem-estar da coletividade, além de divulgar a idéia de priorização dos valores fundamentais: a vida, a liberdade, a paz, o respeito mútuo. A mídia ainda deveria estimular o telespectador pela busca da auto-realização, preservação de valores éticos, promoção de vivência familiar e das amizades de maneira saudável, favorecendo sobremaneira, a formação de consciência crítica na percepção e discernimento dos bens comuns da humanidade.


Porém, na emissão da mensagem midiática o alvo é a conquista do Ibope, a inclusão do telespectador como co-responsável na tomada de decisões (em casos judiciais), classificando os vitimados de inocentes ou os inocentes de vitimados; o que importa é a interação, a formação da opinião pública que ao final da reportagem, ou do programa será apontado(a) uma vítima (pelo menos) e um culpado que serão amplamente crucificados ou aplaudidos, dependendo da ótica, dos sujeitos e contextos, mediados pelo conhecimento adquirido a priori. A televisão apresenta-nos interfaces de uma idéia, que pode ou não coincidir com a verdade: mas a verdade, na realidade apresenta caráter de extrema subjetividade e por isso, chega a ser mera utopia no campo da televisão, informação e mídia.


A televisão e a mídia em geral, incluindo o telejornalismo, os programas de auditório, os sites da internet e outras modalidades de comunicação e interação humana existentes na atualidade, não devem perder de vista a idéia de que podem exercer co-funções nas relações sociais e na construção de imaginários, tais como: educar, reproduzir, mediar, encaminhar e até desconstruir imaginários despersonalizados do contexto ideal ou desejável. O fundamental é que, a cada intenção de exibir uma matéria, programa ou temática, seja feita uma análise entre o que deve ser dito e que precisa, realmente, ser mostrado. Assim, voltará a ser a televisão, um acessório indicado a diferentes idades, gêneros e classes sociais.


METODOLOGIA:


A semiótica é, neste aporte, a metodologia que sustentará a presente análise, sendo o método aplicado, o da análise de conteúdo das expressões verbais e não-verbais enunciadas nos programas e jornais midialógicos que versem sobre as três ocorrências criminais que marcaram a vida do telespectador no período de 2007 e 2008, ensejando discussões teóricas que poderão servir de alicerce a análises futuras, já que não se esgota aqui esta temática.


RESULTADOS E DISCUSSÃO:


Na tentativa de narrar sobre o turvo, compreender o subjetivo, sentir o imaginário, acreditamos que a mídia, a linguagem, a justiça, os sujeitos e contextos são alicerces da grande Aldeia Global que constitui a semiótica do viver e do sentir, através de um único processo que torna o homem o ser superior ante os animais irracionais pela ação do pensar.
A construção do bem comum cultural, intelectual e político, obriga todo cidadão consciente a adotar uma postura proativa frente aos produtos de comunicação de massa que agridam a dignidade da pessoa humana.


Sendo o sujeito o destinatário final das diversas expressões comunicativas, tem o direito inquestionável de exigir qualidade em tudo o que lhe é apresentado ou exposto, individual ou coletivamente. O respeito à pessoa, em seus valores superiores, honra, dignidade, consolidados nas normas das constituições democráticas e nas leis civis, se constrói e se difunde nas raízes do seio familiar consciente, nas comunidades e instituições.


As coberturas dos crimes hediondos, com a forte participação da população no envio de opinião, que de certo modo, podem afetar a tomada de decisões, precisam ser repensadas: programas televisivos que apresentam o passo a passo de crimes cometidos se constituem em aulas teóricas com direito a exercícios práticos, além de induzirem os jovens que não conseguiram alçar um vôo mais alto de forma lícita, a o fazerem a qualquer preço, sem medir as conseqüências de cada ato cometido ou acobertado.


Neste ensaio tentamos refletir sobre os limites em que se deveriam conduzir os meios de comunicação social, no círculo das fortes pressões externas a que devem atender: o dever de informar e formar, o dever de gerar o lucro para organizações, e o dever de respeitar a pessoa humana, em sua dignidade e inviolabilidade. A linguagem, o direito, a mídia e a humanidade carecem de um desnudar, um desvelar idéias. Wittgenstein, ao encerrar uma de suas fases intelectuais de estudos voltados para a linguagem, sabiamente escreveu: “acerca daquilo de que não se pode falar, tem que se ficar em silêncio”(aforismo 6.54). Portanto, como o próprio teórico afirma, precisamos descobrir os sentidos da linguagem, tirando o véu das faces ingênuas dos telespectadores, que sem perceberem, acabam sendo engolidos pela essência da modernidade recheada de atos vis, situações de impunidade, verdades escamoteadas e realidades tristemente evidenciadas.


REFERÊNCIAS:


DUCROT, Oswaldo. O dizer e o dito. Campinas-SP: Pontes, 1987.
FELIX, Ana Elizabeth Araújo da Silva. (org). Gaia Conhecimento: artigos e experiências de pesquisas desenvolvidas por alunos e professores da FAI e ISEC. São Luis: Editora Central dos Livros, 2007.
FONTANILLE, Jacques. Semiótica do Discurso. São Paulo: Contexto, 2007.
GREIMAS, A. J.; LANDOWSKI. Análise do discurso em ciências sociais. São Paulo: Global, 1986.
McLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensão do homem. São Paulo: Cultrix, 1964.
ROCCO, Maria Thereza Fraga. Linguagem Autoritária: televisão e persuasão. São Paulo: Brasiliense, 1989.
SANTOS, Roberto Elisio dos. As teorias da comunicação: da fala à internet. São Paulo: Paulinas, 2003.
SILVA, Juremir Machado da. As tecnologias do imaginário. Porto Alegre: Sulina, 2003.
ZAMBONI. Lílian Márcia Simões. Cientistas, Jornalistas e a Divulgação Científica: subjetividade e heterogeneidade no discurso da divulgação científica. Campinas, SP: Autores Associados, 2001.
WITTGENSTEIN, Ludwig Joseph Johhan. Tratado Lógico-Filosófico & Investigações Filosóficas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.




1 Graduada em Letras – UEMA, Especialista em Língua Portuguesa – UESPI, Mestre em Letras – Estudos de Linguagem – UFPI. Professora da Disciplina Linguagem e Comunicação Jurídica do 1º período do Curso de Direito – FATEPI/FAESPI.


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