Dialogando com o príncipe dos poetas, na ilha de São
Luís.
Ana Maria Felix Garjan*
Gonçalves Dias, 191
anos de nascimento: escute nossos poemas!
São Luís 402 anos:
escute os tambores, veja nossa arte, sinta nossos amores!
Gonçalves Dias, poeta caxiense, maranhense,
brasileiro, escute nossos poemas em tua homenagem. Tua poesia atravessa
cidades, países e continentes do mundo, que se unem em torno de tua obra
eterna!
São Luís 402 anos de fundação, escute cidade
rebelde, os tambores, o canto afro-religioso das caixeiras do Divino! Veja
nossa arte, sinta nossos amores, poesia, literatura e coreografias! Escute os
fortes sons vibrantes dos bumba-bois nos terreiros, ruas e calçadas! Admire, do
alto daquele mirante, os belos barcos antigos a vela, no nosso Rio Anil! E os
belíssimos fins de tarde com pôr-do-sol vibrante, sob o olhar sensível de teus
amantes que atravessam as pontes para admirarem tua luz dourada, amarela,
laranja e vermelha na Praia de São Marcos, na bela Avenida Litorânea e no
Espigão da Ponta D’Areia, no final da Península de São Luís, local de onde
podemos ver muitos prédios construídos e outros em construção...
Mas até quando esse pedaço da ilha vai suportar
tantos prédios em concreto, ferro, gesso, equipamentos e milhares de carros a
circular? Talvez a grande serpente que
envolve São Luís acorde com o peso sobre sua cabeça e sua cauda e assombre a
Lagoa de Ana Jansen.
... E daquela janela de uma bela torre, do lado
poente da ilha, muitos entardeceres foram vistos, sentidos e fotografados sob
olhares sensíveis, que retrataram os mergulhos do sol no Atlântico..., em suas
ondas que levaram o poeta caxiense para uma viagem além-mar, da qual jamais
iria retornar...
A
obra do poeta Antonio Gonçalves Dias é grandiosa e, portanto, universal! Todas
as homenagens, odes, sinfonias, cantos e espetáculos são representações e
aproximações à sua obra que conquistou imortalidade, a partir de sua história
de vida e da vida de sua obra literária, cuja gênese ocorreu em um pequeno
povoado de Caxias, em 10 de agosto de 1823.
Dos
séculos passados à atualidade, são muitos os autores que se dedicam a analisar
o valor literário dos escritos de Gonçalves Dias, sob a forma de poesias e
peças teatrais, buscando identificar as relações entre o mundo exterior e
interior, que suscitaram a sua inspiração e sua forma surpreendente de produzir
objetos poéticos mesclados de elementos objetivos, simbólicos e imaginários,
como a Canção do Exílio, cuja matriz se tornou clássica e reproduzida por
muitos autores da segunda geração de românticos, como Casimiro de Abreu,
seguido de poetas e escritores modernistas, como Carlos Drummond de Andrade e
críticos, como Chico Buarque de Holanda.
A Canção do Exílio foi recriada e parodiada
por inúmeros poetas modernistas, segundo alguns autores. Seus versos estão
citados no Hino Nacional Brasileiro, nas estrofes: “Nossos bosques têm mais
vida,/ Nossa vida, mais amores”.
Destacamos
algumas releituras e citações que o imortal Antônio Gonçalves Dias recebeu,
através de poetas brasileiros, tais como:
Canção do Exílio - Casimiro de Abreu
Canto de Regresso à Pátria - Oswald de Andrade
Europa, França e Bahia - Carlos Drummond de Andrade
Nova Canção do Exílio - Carlos Drummond de Andrade
Canção do Exílio - Murilo Mendes
Canção do Expedicionário - Guilherme de Almeida
Uma Canção - Mário Quintana
Jogos Florais I e II - Antônio Carlos de Brito (Cacaso)
Canção de Exílio Facilitada - José Paulo Pais
Lisboa: Aventuras - José Paulo Pais
Sabiá - Letra de Chico Buarque de Holanda e música de Antônio Carlos Jobim
Terra das Palmeiras – Taiguara
Pátria Minha - Vinícius de Moraes
Canto de Regresso à Pátria - Oswald de Andrade
Europa, França e Bahia - Carlos Drummond de Andrade
Nova Canção do Exílio - Carlos Drummond de Andrade
Canção do Exílio - Murilo Mendes
Canção do Expedicionário - Guilherme de Almeida
Uma Canção - Mário Quintana
Jogos Florais I e II - Antônio Carlos de Brito (Cacaso)
Canção de Exílio Facilitada - José Paulo Pais
Lisboa: Aventuras - José Paulo Pais
Sabiá - Letra de Chico Buarque de Holanda e música de Antônio Carlos Jobim
Terra das Palmeiras – Taiguara
Pátria Minha - Vinícius de Moraes
Segundo
Sylvia Helena Cyntrão, autora da dissertação A ideologia nas canções de exílio:
ufanismo e crítica (1988), Gonçalves Dias não apenas traduziu o furor ativista
da pós-independência ou o sentimento saudosista de um jovem exilado em Coimbra.
O poeta falou de emoções universais profundas, transcendendo espaço e tempo:
seu lirismo interno abriu caminhos na sensibilidade do século XIX,
perpetuando-se até os nossos dias. (Cyntrão, 1988, p.26).
Não
há, é claro, a continuidade de uma mesma vertente de romantismo e de
nacionalismo, nos trabalhos dos poetas contemporâneos, sobretudo aqueles que
realizaram seu trabalho literário de cunho político, na época do combate ao
obscurantismo implantado pela ditadura militar. Entretanto, a revisitação ao
tema do exílio deixa entrever que, pelas lentes originais de Gonçalves Dias,
foi apreendido e explicitado um tema recorrente, que expressa sob ângulos
diversos, a própria condição humana em busca de um porto seguro, simbolizado
pela terra de nascimento, pela pátria, pela própria morada talvez, compreendida
em seu sentido mais subjetivo.
Esse
poeta de origem mestiça, marcado pelo estigma do preconceito racial e social,
projetou-se no cenário da literatura nacional, sendo considerado o fundador do
romantismo e um integrante da corrente do indianismo e, mais do que isso, o
precursor do movimento de nacionalização da literatura brasileira, ainda que
também possa se identificar um viés, resultado de sua ampla formação cultural,
em que se externava um certo nacionalismo, que não abdicava do diálogo com a
produção literária dos seus contemporâneos ibéricos, a quem buscara conhecer em
sua estada em Coimbra, ainda quando cursava a Faculdade de Direito e, também,
quando percorreu diversos países europeus em missões científicas.
Ainda
que estivesse dialogando com seus pares, quando em 1846, lança sua primeira
obra literária, realça seu desejo de não se deixar aprisionar pelos padrões da
estética literária da época. Faz mesmo
uma declaração de “independência”, ao afirmar “menosprezo pelas regras de mera
convenção” ao escrever o prólogo de seu livro, lançado com seus próprios
recursos.
Ainda dialogando com o poeta caxiense.
Escute meu poeta:
Caxias
segue seu destino, há novas instituições, e uma delas, a mais nova, homenageia
o nome do caxiense Gonçalves: Espaço Cultural Gonçalves Dias, para que o nome
do poeta e sua obra estejam em diálogo silencioso, no mesmo espaço onde estão
obras de autores caxienses, ludovicenses, maranhenses, brasileiros,
latino-americanos e de países da Europa, para que se produza uma amálgama
composta pela poesia com todas as artes, em prol da cultura, além do horizonte
do Morro do Alecrim, onde resistem ao tempo as ruínas da Balaiada, que elevou a
história de Caxias no cenário nacional.
Antônio
Gonçalves Dias, nós te homenageamos a cada visita realizada por professores,
alunos universitários, pesquisadores, jornalistas, meios de comunicação,
professores e alunos de escolas municipais de Caxias e de outros pequenos
municípios, bem como representantes institucionais caxienses, maranhenses e de
outros estados, que visitam esse espaço que compõe o panorama cultural de
Caxias e do Maranhão, através de sua programação cultural e científica. És
nosso Patrono maior!
Gonçalves
escute: há teus seguidores que cantam seus amores, que são apaixonados, como
eu, pela ilha de São Luís, onde viveste embalado de amor por tua musa! Neste
mês de setembro, houve um grande movimento de instituições, associações,
poetas, artistas plásticos, fotógrafos, escritores, jornalistas, meios de
comunicação e muita gente que te ama e homenageia, nessa importante cidade
histórica e cultural, repleta de contradições sociais, urbanas e de diversas
ordens. Aos poucos, discorreremos sobre os diversos aspectos da “ILHA DO
MARANHÃO”, mas encerramos essa narrativa com as palavras de Claude
d’Abbevville, registradas no livro “Sur La France Équinoxiale”:
Passado, Presente – Hoje
Gonçalves Dias completou, no tempo, 191 anos de nascimento. São Luís completou, em seu tempo de história
e cultura, 402 anos. Seus nomes estarão sempre unidos na sinergia do tempo,
entre o passado, o presente e o amanhã – futuro. E nós do Grupo ARTFORUM Brasil
– Núcleo do Maranhão registraram no período de setembro a novembro, os 14 anos da 1ª Bienal Multicultural do Maranhão, que foi
realizada no período de setembro de 1999 a janeiro de 2000, intitulada “Sinergia do
Tempo: Passado, Presente, Futuro”, em homenagem a São Luís – Patrimônio
Cultural da Humanidade e aos 5 séculos de fundação do Brasil, pela Coroa
Portuguesa.
Enfim Gonçalves, Deus escutou tua prece, e nós também oramos por
São Luis, pelo Brasil e pela Paz da humanidade, nesse tempo de guerras
violentas que matam crianças, jovens e sonhos de liberdade. “Não permita Deus que eu morra, Sem que eu
volte para lá”. E ainda avistastes as terras e palmeiras do teu Maranhão.
Que Deus não permita que haja mais violência nas florestas, vilas,
ruas e cidades do Brasil e do mundo! Que a cultura de Paz se espalhe pelo
mundo, com urgência!
Tributo à ‘Canção do Exílio’, de
Gonçalves Dias
Por Ana
Maria Félix Garjan
Onde
havia teus pássaros, belas aves e palmeiras cantadas por ti, Gonçalves Dias,
Há
queimadas, tuas palmeiras já morreram, os teus sabiás estão quase mudos;
Nosso
céu está cinzento, a poluição é grande no Maranhão e no nosso planeta
Mas
ainda vemos estrelas que miram os seres da terra; imaginamos o teu céu;
Nossos bosques estão desmatados, nada pode ser feito, não há lei, não há paz;
As
leis não impedem queimadas das florestas, e os homens maltratam os animais;
Eu
também fico a cismar, até onde o homem destruirá nossa natureza, teus Sabiás...
Ainda
há várzeas, rios, palmeiras onde cantavam as aves que gorjeavam aqui, e lá;
Nossas
vidas, nossos amores estão na corrida contra o tempo das contradições, Dias!
Os
prazeres dos homens são perigosos para os inocentes, há muita violência no
mundo;
Os
governos, as religiões, pessoas, grupos e instituições sofrem perturbações
O
mundo está confiante na renovação, não queremos guerras, pedimos paz às nações;
Em
nossa terra ainda buscamos ‘primores’, desejamos ouvir o canto dos teus Sabiás,
Queremos
que mil poemas corram o mundo, que haja tempo de renovar tua memória!
O
teu ‘Canto do Exílio’ é uma declaração de amor e respeito à natureza daqui e de
lá.
Tua
vida, nossas vidas estão escritas neste livro, onde poetas cantam versos para
ti!
Que
Deus permita que possamos viver nossos amores e artes, ao som de ventos e
brisas
E
que possamos renascer e contribuir com a natureza, para salvarmos nosso
planeta!
São Luís, cidade amada por
Gonçalves e por nós.
Enfim São Luís, que Deus escute nossas preces, as preces dos teus
filhos, filhos adotados e amigos apaixonados por tua cultura. Que haja mais
organização em teu solo, que tuas águas sejam mais limpas, que teu patrimônio
seja cuidado, zelado, respeitado. Que teu povo conquiste todos os seus direitos
sociais como cidadãos ludovicenses, maranhenses e brasileiros. Que o governo do
município e o governo do estado sejam portais maiores do desenvolvimento de São
Luís e de todas as cidades! E que um grande caminho seja iniciado rumo ao teu
futuro, que começou em julho de 1612, através das ações de La Ravardière e
François de Razilly, quando organizaram a construção do Fort Saint-Louis e
fizeram diversas viagens de exploração ao Maragnon.
Que teu futuro seja justo e
feliz, São Luís!
[*] *Ana Maria Felix Garjan é Embaixadora da
Paz, pelo Cercle Univ. Ambassadeurs de la Paix/FRANCE / SUISSE, 2012; Manifesto Verde pela Paz da Humanidade e do
Planeta: http://www.cidadeartesdomundo.com.br/MV.html
Socióloga, escritora, poeta, ensaísta, pesquisadora em arte, artista plástica; Membro Fundador da Academia Caxiense de Letras - ACL, ocupante da cadeira nº 15, patrono Antônio Gonçalves Dias, 1998; Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, ocupante da cadeira nº 34, patrono Aderson Ferro 2013; Membro Correspondente da Academia Ludovicense de Letras – ALL, 2014; Diretora de Cultura e Comunicação do Espaço Cultural Gonçalves Dias – ECGD, 2013. Seus poemas a Gonçalves Dias e textos foram publicados em blogs e sites. Participou e participa de antologias poéticas, literárias e de arte, no Brasil e em outros países, a partir de 2001, quando participou da antologia: “Poesia pela Vida”, organizada pela UNIVERSUS, Trento – Itália.
Socióloga, escritora, poeta, ensaísta, pesquisadora em arte, artista plástica; Membro Fundador da Academia Caxiense de Letras - ACL, ocupante da cadeira nº 15, patrono Antônio Gonçalves Dias, 1998; Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, ocupante da cadeira nº 34, patrono Aderson Ferro 2013; Membro Correspondente da Academia Ludovicense de Letras – ALL, 2014; Diretora de Cultura e Comunicação do Espaço Cultural Gonçalves Dias – ECGD, 2013. Seus poemas a Gonçalves Dias e textos foram publicados em blogs e sites. Participou e participa de antologias poéticas, literárias e de arte, no Brasil e em outros países, a partir de 2001, quando participou da antologia: “Poesia pela Vida”, organizada pela UNIVERSUS, Trento – Itália.
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